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Entendendo aIncontinência

Veranópolis: exemplo de longevidade

13 de Setembro de 2016
TENA

Em 1994, o geriatra Emílio Hideyuki Moriguchi fazia seu pós-doutorado na Browman Gray School of Medicine, na Wake Forest University, no estado da Carolina do Norte, Estados Unidos. Foi nessa época que ele leu uma reportagem publicada na revista National Geographic sobre os locais com população mais longeva do mundo. Entre eles, havia um município no Brasil, Veranópolis, no Rio Grande do Sul, seu estado natal. Desde então, passou a desenvolver ali uma série de estudos que renderam diversas publicações científicas nacionais e internacionais.

Atualmente é docente do Departamento de Medicina Interna da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e do programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos).Para falar mais sobre os segredos que a cidade gaúcha ensina sobre longevidade, o médico concedeu a entrevista a seguir.Como a reportagem lida na revista direcionou sua vida acadêmica? Depois que soube de Veranópolis, fui checar as informações oficiais. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) confirmava que a perspectiva de vida lá já era de 77 anos – índice de que estamos nos aproximando apenas agora no Brasil. Em seguida, fui até lá pessoalmente verificar se os números eram verdade. E eram.

Foi então que comecei a fazer pesquisas baseadas nos protocolos da Organização Mundial da Saúde e fomos pioneiros nessa aplicação no Brasil. Apesar disso, nossos resultados e mesmo o município de Veranópolis são mais conhecidos internacionalmente do que aqui dentro, porque no Brasil pouco se estuda sobre longevidade. Lá fora, temos parceria com diversas instituições. As mais recentes são do Canadá e do Japão.

O que Veranópolis nos ensina a respeito do envelhecimento? Acho que uma grande descoberta é que a longevidade não depende só da saúde, no sentido de estilo de vida, dieta e exercícios físicos. Ela está ligada também aos aspectos espirituais e na qualidade das relações interpessoais.

Então longevidade nem é sempre sinônimo de qualidade de vida? Qualidade de vida é um fator importante, mas não único. Envelhecer bem, sem doenças crônicas, é importante, mas não basta. O importante mesmo é ter bons relacionamentos pessoais. Em Veranópolis temos centenários que são diabéticos. Ou seja, isso não importa tanto.Por falar em aspectos espirituais, qual a importância da religiosidade para a qualidade de vida do idoso? Cultivar a espiritualidade ou a religiosidade é fundamental. Quem consegue manter isso vivo, independentemente da religião, vive mais e tem mais qualidade de vida. Até mesmo para os ateus – o importante é crer em alguma coisa, nem que seja em si mesmo, em um deus próprio.

É fundamental ter fé ou esperança em algo.Hoje temos uma questão importante e recorrente que é a convivência entre diversas gerações: bisavós, avós, filhos, netos, bisnetos… Isso tem impacto na longevidade e na qualidade de vida? Sem dúvida. E é benéfico para todos os lados, não apenas para os mais velhos. Essa é uma característica de Veranópolis. Lá há muitas famílias com mais de quatro gerações vivendo na mesma casa. Fizemos estudos preliminares e percebemos que, nesses idosos, o encurtamento dos telômeros (extremidade dos cromossomos) é mais lento.

E, só para esclarecer, o encurtamento está diretamente ligado ao envelhecimento. Agora vamos dar início a uma pesquisa mais abrangente para provar que o relacionamento intergeracional realmente adia esse fenômeno.

O senhor já declarou em entrevistas anteriores que os idosos saudáveis de Veranópolis são aqueles que nunca fizeram reposição indiscriminada de vitaminas. E que, ao contrário, os idosos doentes hoje fizeram uso de vitaminas no passado. Como se explica isso? Vários estudos, inclusive internacionais, mostram que a reposição de polivitamínicos leva a uma série de problemas, como mortalidade precoce e casos de câncer. Simplesmente porque as pessoas acham que saúde se compra na farmácia. E não é assim. As vitaminas se acumulam no organismo e causam mal. O mesmo se pode falar em relação à reposição de vitamina D, que virou uma febre, mas já foi desmascarada. Há pesquisas mostrando que quem faz reposição dessa vitamina tem até mais fraturas ósseas em comparação a quem não o faz.

Veranópolis recebeu recentemente o selo de Cidade Amiga do Idoso. O que isso significa para a população acima dos 60 anos? Mais importante do que receber o selo é o preparo que a cidade tem de fazer para recebê-lo. É um processo de vários anos de pesquisa para diagnosticar a situação geral da cidade, levantar dados e conversar com a população idosa para saber o que é necessário para garantir uma boa qualidade de vida a essa faixa etária. Conseguimos cumprir a primeira etapa para receber o selo. Agora partimos para a segunda etapa, mais complicada. Os idosos, por exemplo, apontaram a questão da violência como um impeditivo à qualidade de vida. Então começamos a trabalhar isso por meio de patrulhas da vizinhança e união das comunidades para, por exemplo, avisar a polícia em caso de algo suspeito. Temos cerca de três anos para trabalhar alguns aspectos e então tentar o segundo nível da certificação. De qualquer maneira, não dá para negar que o título é um reconhecimento.

Ainda há poucos geriatras no Brasil. O seu pai é considerado um dos primeiros deles. Que influência ele teve na escolha da sua profissão? Meu pai foi o primeiro geriatra brasileiro reconhecido como tal, em 1971. E ele me influenciou em todos os sentidos, pois me fez ver como era importante me preparar para atender essa população. Quando fiz residência em 1982, percebi que a maioria dos pacientes era idosa e que não adiantaria só eu saber medicina interna, era preciso ser mais específico. Vi como a profissão do meu pai era necessária à sociedade. Então posso dizer que dele recebi a melhor herança e o melhor exemplo.

Pelo seu importante papel em relação à longevidade, Veranópolis sediou recentemente, a 18ª Jornada de Inverno da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), evento que reúne profissionais interessados no estudo sobre o envelhecimento. A SCA do Brasil prestigiou o evento, e apresentou aos profissionais os diferenciais da marca TENA – líder mundial em produtos para incontinência urinária.