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Idosos e a tecnologia: benefícios e dificuldades

10 de Dezembro de 2016
TENA

Um novo mundo que se descortina à frente. É assim que os especialistas que trabalham na orientação de idosos para o uso da tecnologia costumam definir o que acontece com seus aprendizes quando estes passam a usar as redes sociais e seus smartphones. Os especialistas também descrevem os benefícios e dificuldades da imersão dos idosos no mundo da tecnologia. “Eles começam a fazer parte de algo novo no qual todos os outros membros de sua família já estavam inseridos e eles não”, diz Kely Cristina Pereira Vieira, pedagoga, mestre em Tecnologias da Inteligência e Design Digital pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e coordenadora do Instituto de Educação a Distância da Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais.

A especialista recorda que uma das idosas entrevistadas para a dissertação de mestrado contou que a internet lhe possibilitou conhecer a Antártida. Como? “Por conta de questões de locomoção próprias do envelhecimento ela não poderia mais viajar até lá, mas um conhecido mandou para ela fotos do local por e-mail”, lembra.

No Brasil, os idosos têm tido a oportunidade de participar de cursos de informática e tecnologia próprios para eles nos diversos programas de Universidade da Terceira Idade oferecidos pelo país, bem como alguns de outras instituições. Kely participou de grupos assim na PUC-SP e conta que, segundo os alunos idosos, o uso das redes sociais amplia o contato e a interação com a própria família, já que muitos passam a se comunicar com maior efetividade e constância com os filhos e netos por meio do smartphone e seus aplicativos de troca de mensagens.

O número de idosos conectados tem crescido. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2008, apenas 5,7% das pessoas acima dos 60 anos eram internautas. Em 2013, o número aumentou para 12,6%. Outra pesquisa, realizada em 2015 pela AVG Technologies, entrevistou adultos com mais de 50 anos sobre o uso de celular. Do total da amostra, 86% disseram que o celular é o dispositivo mais usado e 78% deles possuem um smartphone; 76% usam o Facebook e somente 9% não utilizam nenhum serviço de comunicação. No entanto, apesar de serem consumidores de tecnologia, a pesquisa da AVG descobriu que eles não se sentem incluídos. Os entrevistados disseram sentir-se menosprezados pelas empresas de tecnologia e tratados como analfabetos digitais.

Em todos os grupos de idosos em cursos de tecnologia dos quais Taiuani Marquine Raymundo, terapeuta ocupacional e professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), já participou, a preferência é clara pelo uso do Facebook e do WhatsApp – sempre no celular. “O celular hoje tem uma imensidão de aplicativos, mas os idosos não usam a maioria deles. Então uma das coisas que fazemos é melhorar a interface para que ele use o que achar útil”, diz a especialista, cujo mestrado no Programa de Pós-Graduação Interunidades – Bioengenharia da Universidade de São Paulo teve como tema a aceitação de tecnologias por idosos.

Principais dificuldades para aderir à tecnologia. A primeira barreira a ser transposta para imersão dos idosos no mundo da tecnologia é o preconceito. “A princípio, acham que tecnologia não é para eles, depois se encantam”, diz Kely.A segunda é a falta de profissionais capacitados para ensiná-los, já que a metodologia que deve ser usada é diferente da comumente usada para adultos. “A principal diferença é que essa faixa etária tem dificuldade em memorizar o passo a passo para acessar os softwares e aplicativos, por isso precisam de uma sequência bem determinada para aprender. Não podemos sair do padrão”, explica a especialista.

Diferentemente da criança, que não se importa em errar até aprender, o idoso tem receio. “Ele é cauteloso, tem medo de fazer bobagem, de quebrar o computador ou o smartphone”. Na pesquisa de Taiuani, 24% dos idosos declararam ter medo de utilizar novas tecnologias e 40% confessaram receio em danificar o aparelho. Benefícios da tecnologia para idosos. Embora possa haver dificuldades para aprender a usar os dispositivos tecnológicos, há muitos benefícios. O primeiro aspecto positivo para o idoso que aprende a mexer com tecnologia é fortalecer sua interação com os amigos e a família – em especial com as gerações mais jovens ou com aqueles que vivem em locais distantes dele. “A socialização aumenta muito”.

No fim, a inclusão digital é apenas uma consequência”, afirma Taiuani. O maior contato com amigos e familiares – ainda que a distância e de forma virtual – diminui a solidão. Segundo uma pesquisa do Pew Research Center, entidade norte-americana, 50% dos idosos que utilizam a Internet melhoram o contato familiar, social, comercial (por meio da leitura de notícias) e até educacionais – para além do aprendizado da tecnologia, os idosos também passam a realizar pesquisas, a ver filmes e a fazer cursos on-line. Outra grande vantagem na retomada do aprendizado é a atualização cultural e o aumento da sua autoestima.

Além, claro, dos benefícios cognitivos, já que o aprendizado novo estimula o cérebro, afastando os riscos de demência ou doença de Alzheimer. Segundo um estudo da Clínica Mayo, dos Estados Unidos, que acompanhou 1.929 pessoas com mais de 70 anos durante quatro anos, utilizar o computador ao menos uma vez por semana reduz em 42% a probabilidade de o idoso ter problemas de memória e raciocínio. Em comparação, ler revistas reduz em 30%, enquanto trabalhos manuais, como tricô e crochê, em 16%. Os ganhos, portanto, são muitos e vale a pena vencer as barreiras inicias para obtê-los.